Ainda sem um diagnóstico seguimos em busca de algo que pudesse esclarecer o que eram aqueles movimentos estranhos e desconhecidos que ela fazia . Como estava claro que não era refluxo , por eliminação , só poderia ser convulsão .
Para seguir a sequencia na bateria de exames, fizemos um exame de ressonância magnética . A parte boa é que dessa vez não teríamos que enfrentar ambulância , pois seria realizado no próprio hospital. Colocaram Alice numa encubadora e seguimos em direção ao térreo.
Nessa altura , eu já não sabia se gostaria que encontrassem algo ou não. Essa sensação de incerteza gera uma certa angústia , medo e receio do que poderia vir pela frente. Será que estaria preparada para o pior?
Alice entrou na sala gelada, dormindo e quietinha como sempre , e tivemos que aguardar do lado de fora . Passados alguns longos minutos o exame ficou pronto , mas ainda não tínhamos um resultado , pois o radiologista só faria o laudo no dia seguinte.
Voltamos pra casa mais uma vez exaustos. Essa exaustão não é física , embora também sentisse um certo peso em meu corpo , mas era , sobretudo, uma estafa mental muito grande. A cabeça não parava e mil pensamentos e dúvidas norteavam minha mente , o que não me trazia paz e conforto em nenhum momento.
No dia seguinte, fomos chamados pelo neuropediatra para falarmos sobre o quadro dela. O resultado da ressonância havia dado normal. Entramos na salinha lá dentro da UTI e o médico começou com as explicações técnicas dele, sem muita preocupação em traduzir todo aquele linguajar científico. Trocando em miúdos , no final das contas , ele queria nos dizer que aqueles episódios eram mesmo crises convulsivas. Mas o que estaria causando essas crises? Ninguém sabia. Ele sugeriu para as médicas - que podem acatar ou não a decisão dele - de continuar com o anticonvulsivante e dar alta pra ela.
Porém , precisávamos de uma outra opinião. Não estávamos completamente seguros de que aquele realmente era o diagnóstico , pois ainda não havia uma etiologia , ou seja , o diagnóstico veio sem uma explicação que fundamentasse os episódios convulsivos.
E assim seguimos a sugestão de uma pessoa muito querida e que me ajudou demais nessa luta. Ligamos para o neuropediatra indicado , super conceituado no ES , com um currículo sensacional e que nos deu uma esperança de que as coisas poderiam ficar mais claras em relação ao quadro da Alice. Entramos em contato e marcamos um dia para que ele pudesse avaliá-la. De uma certa forma estaríamos começando tudo outra vez , por mais que alguns exames já tivessem sido feitos.
No dia e na hora marcada , apareceu o médico de barba aparada , sem jaleco, muito gentil e educado. Logo identifiquei que se tratava do neuropediatra , pois tinha visto uma foto dele no site da Clínica.
- O senhor não usa jaleco? Perguntei.
- Não . É que não gosto de assustar as crianças , respondeu sorridente.
Foi simpatia à primeira vista. Digitei a senha ( os pais tem acesso livre ) e ele entrou na UTI para conversar com as médicas . Viu os exames , ouviu todos os relatos e fez alguns testes físicos nela . Tudo absolutamente normal. Porém , depois de alguns minutos conversando com as outras médicas , Alice teve uma crise. Meu marido o chamou correndo e ele chegou a ver uma parte do episódio. Naquele momento , ele disse não ter dúvidas de que se tratava de uma crise epilética.
Por fim , o diagnóstico era realmente esse. Crise convulsiva epilética. Então ele sugeriu que fizéssemos um EEG ( Eletroencefalograma) e mais uma vez teríamos que sair de ambulância do hospital.
Novamente me senti num parque de diversões . Só que agora não era uma montanha russa emocional , mas uma roda gigante naquele sobe e desce em círculos. Parecia que não chegaríamos a lugar algum .
Meu marido teve que voltar a trabalhar e me vi sozinha no olho do furacão. Eu tinha que ser forte , não havia tempo para melindres e choradeiras . Inseguranças à parte , subi naquela ambulância com minha filha e segui rumo a clínica onde seria feito o eletro ( meu marido estaria lá me esperando).
Uma hora e meia depois de entrarem na salinha veio o resultado : normal , para meu alívio ou não. O EEG dela era de um bebê que estava dormindo , apenas isso. Logo , aquela nuvem negra rondou novamente a minha cabeça. O que poderia ser afinal? Senti que essa luta seria grande .
Alice saiu da sala com o cabelo completamente duro , por causa do gel que colocaram na cabeça dela. Chegando na UTI pedimos que dessem um banho nela , pois era inviável continuar com aquele cabelo melequento e todo grudado. Esse banho , que não é de praxe , seria dado no baldinho chamado ofurô.
No dia seguinte levei a minha máquina e banquei a mãe paparazzi. Minha bebê estava tomando o segundo banho da sua vida depois de 22 dias de nascida.